domingo, 30 de janeiro de 2011

De  Caio Fernando Abreu
Inspirado em mim, só pode!


    E se perguntassem o que vem a ser o certo, Gabriela olharia com a cabeça torta como a de um cachorro quando parece não compreender o que se passa. O olhar de repente vidrado de quem tem sede de entender as coisas que acontecem ao redor. Ela não sabia amar, talvez. Então mais um amor havia ido embora, mais um amor havia chegado ao fim. Nessa imensa individualidade onde ninguém podia entristecê-la sempre cresciam espinhos. Espinhos para machucar aqueles que a machucavam, então assim não a tocavam. Não tocava porque o medo da mágoa não deixava que lhe tocassem, ou então havia medo porque não haviam tocado fundo o suficiente para que o medo não existisse. Que triste então estava sendo, mas Gabriela parecia acostumada. Acostumada e fria porque depois de tantas lágrimas, ela finalmente parecia ter secado. A maquiagem borrada em volta dos olhos tinha sido limpa na noite anterior. Quando Antônio e ela se encontraram; ela parecia inteira. Inteira porque não tinha ficado nada dela para trás. Seus olhos eram de desilusão, de cansaço. Cansada de construir sonhos, planos, fantasias. E depois da desilusão ter de destruir uma a uma, como se nada daquilo tivesse um dia existido, só para olhar para trás e não sentir nada do que sentira antes. Era mais um fim doído, choroso, arrastado. Fosse o ponto final sua última lágrima de dor, já havia então sido decretado. Decretado num discurso mudo, num adeus em silêncio. Dito através de tudo daquilo que não havia sido falado. Antônio não parecia prestes a dizer nada. Gabriela não diria; se pudesse escolher, teria ficado calada, mas lhe escapou: “Meu coração tá ferido de amar errado. De amar demais, de querer demais, de viver demais. Amar, querer e viver tanto que tudo o mais em volta parece pouco. Seu amor, comparado ao meu, é pouco. Muito pouco. Mas você não vê. Não vê, não enxerga, não sente. Não sente porque não me faz sentir, não enxerga porque não quer. A mulher louca que sempre fui por você, e que mesmo tão cheia de defeitos sempre foi sua. Sempre fui só sua. Sempre quis ser só sua. Sempre te quis só meu. E você, cego de orgulho bobo, surdo de estupidez, nunca notou. Nunca notou que mulheres como eu não são fáceis de se ter; são como flores difíceis de cultivar. Flores que você precisa sempre cuidar, mas que homens que gostam de praticidade não conseguem. Homens que gostam das coisas simples. Eu não sou simples, nunca fui. Mas sempre quis ser sua. Você, meu homem, é que não soube cuidar. E nessa de cuidar, vou cuidar de mim. De mim, do meu coração e dessa minha mania de amar demais, de querer demais, de esperar demais. Dessa minha mania tão boba de amar errado. Seja feliz.










sábado, 29 de janeiro de 2011

Críticas urbanas

   
    A impressão de que os grandes pintores, com suas técnicas e ideologias, ficaram em séculos passados e só se vê boa arte indo em museus é uma opinião que evapora quando se conhece o trabalho de Dan Witz. Com uma técnica muito além de só saber desenhar com detalhes sutis e crítica, muita crítica por cima de suas pinceladas. A realidade ocultada por  governos mesquinhos numa nova ordem tirana onde os excluídos estão atrás da porta ( ver série Dark Doings ) ou onde o cotidiano passa invisível camuflado na desordem ( ver séries Birds, Skateboarders, Streetart ).
Separei algumas do seção GALERY WORK 







sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Fotos retiradas de umas das galerias do flickr Gee See, eu adorei a ideia! Não é a primeira vez que eu vejo esse tipo de composição, mas não  deixa de ser criativo e sugestivo mostrando os grandes clássicos relembrados eternamente por pessoas comuns e anônimas. Misturando-se a nossa própria forma na rotina do dia-a-dia.









quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Não sei porquê, mas me deu vontade de postar o vídeo dessa música aqui . Vai ver é em homenagem à presença dela no Rock in Rio, não sei hahahaha

    

                      
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sábado, 22 de janeiro de 2011

O coração farpado

Amor é querer beijar e ser mordido
Lascas se soltam e ferem ...
Enquanto um se corta,
O outro fica com o resto que falta da roupa com cheiro de pele rasgada.
E não larga.
Do corte se estanca e sara.
Do coração farpado nada mais encosta
Aramado, protegido e enferrujado.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

TODA MULHER JÁ FOI POSTE UM DIA

por Maria Rita Angeiras




    Com o passar tempo, você finalmente superou. E um dia não foi mais tão estranho encontrar com ele nos lugares. Seu corpo aprendeu onde colocar as mãos sem que elas parecessem perdidas no seu próprio bolso. Seus olhos aprenderam a não procurar por ele nas festas e a passar de relance por todas as mulheres que seguravam o braço dele, numa mistura de ódio e simpatia, e também aprenderam a não chorar toda vez que ele fazia você se sentir mais uma na listinha dele. Seu cérebro aprendeu que essas coisas do coração doem demais e que você precisa pensar umas trezentas vezes antes de se apaixonar por qualquer homem minimamente parecido como ele. Sua boca também aprendeu a não te xingar baixinho de estúpida quando aquilo tudo voltava como um filme na sua cabeça. Sim, você aprendeu, a duras penas, e quando nem a sua mãe colocava mais fé no seu adorável dedo podre para homens. Aí o tempo passa, você toca a vida, e aqueles encontros com ele são só mais uns encontros comuns, como todos os outros, até o dia em que você resolve, espontaneamente, se interessar por um primo de quarto grau, um amigo afastado ou um conhecido dele, porque o mundo é pequeno mesmo, fazer o quê. Azar o seu, parte pra próxima. Assim como um cachorro quando passeia na rua, ele vai fazer questão de marcar o território dele, ou o ex-território, que nesse caso é você. Como? Fácil. Segurando a sua mão, pegando no seu queixo, mexendo no seu cabelo ou usando qualquer outra estratégia milimitricamente calculada bem na frente do seu prospect, deixando bem claro que ninguém é de ninguém, mas só até o momento em que ele balizar alguma mulher que já foi dele com um sutil, mas significativo toque. E é nesse exato segundo, distraída com a pseudo delicadeza do gesto, que você se transforma numa mulher-poste. Aí não tem mais jeito. O cara que você nunca teve de verdade já era, o cara que te interessava já era e você também já era, marcada por uma coisa que nem existe mais, que você já superou e que ele também já superou, mas que ele é muito pouco homem para simplesmente deixar ir. E antes que você pense que eu ia poupar você - e eu - dessa terrível constatação, aqui vai ela, eternizada na grande lamentação existencial de um poste, após receber a visita de um cachorro: sim, ele mijou em você.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

3 palavras sobre você

Pense agora três palavras que definam você ...
Agora pense quais as três palavras que os outros escolheriam para definir você...

      Pois bem, quando eu acho que toda a utilidade das redes sociais já se foram e que daqui pra frente só vigora blog, tumblr, flickr, orkut, facebook ... me apresentam o threewords.me. Já me sinto até meio ultrapassada hehe
É fácil, simples e mexe com o seu ego. Algo muito semelhante ao formspring, mas bem mais prático e objetivo. Típica febre da internet, com certeza. Fiz um para testar e mostrar aqui, provavelmente não continuo, mas a maioria das pessoas adora saber oque pensam a respeito delas ou falar escrachadamente oque pensam dos outros ... então, sucesso na certa.


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

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everything in its right place

 E o tumblr do dia vai para  ... gazelle !  (ok. Menos, bem menos)







Fotos muito minimalistas, mas com muito contexto e informação. A beleza natural e efêmera que só boas fotos conseguem capturar; pedaços de corpos, um céu em névoa, uma memória registrada ... E uma pouco de arte também! É  impossível não haver inspiração .

sábado, 15 de janeiro de 2011

refazendo as máscaras

Série presente no  flickr do artista americano Jesse Lenz, que inspirado na imortalizada obra de Andy Warhol de Marilyn Monroe, retrata o rosto dos dentetores do poder; corrompidos e poderosos .
Fictícios ou reais:  Monstros, com o sentido que você interpretar .










Retirei esse trecho do flickr, nas palavras do próprio Lesse :

''A pintura serigrafada de Andy Warhol de Marilyn Monroe é um dos mais emblemáticos da movimento Pop Art. Muitas pessoas não sabem que a pintura foi feita para mostrar a máscara de popularidade que uma celebridade usa. Por fora, havia diferentes tons de felicidade, mas sob toda a pintura e sorrisos havia algo mais sombrio: depressão, uso de drogas e suicídio. Eu tirei essa idéia e reinterpretei para falar a verdade da nossa cultura popular. O cabelo e make-up do "Marilyn Monroe"  é colocado sobre os políticos, os ditadores, os funcionários públicos, bem como os monstros de terror antigo filme que são mentirosos, assassinos e tiranos. Ao fazer esta afirmação não importa o quanto a cultura popular  ou a mídia tenta vestir-se e embelezar essas pessoas, elas ainda são monstros. (...) As pessoas estão muito dispostas a abdicar da sua liberdade para ser cuidado e protegido pelo governo. Eles acreditarão em qualquer coisa que lhes é dito mesmo que eles saibam seu uma mentira, porque eles não querem saber a verdade. Como sociedade, nós queremos ser enganados, queremos pensar que tudo é normal, mesmo quando as coisas estão caindo ao nosso redor. Queremos acreditar nas pessoas mesmo que elas nos deem promessas vazias e mentiras cada vez que abrem suas bocas. Precisamos acordar e perceber que mentir para nós mesmos não muda a realidade. Devemos reconhecer e aceitar a verdade. A verdade vos libertará, mas não vai fazer você dormir fácil à noite.''

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

inspiração

Leveza e encanto de uma obra de arte...






fotos do editorial da Vogue América . 
um fio resta de mim mesma.

e estou tentando puxar o elo
do outro lado da vitrine
que eu tanto observo em sussurro,
sou meio Teseu, meio Ariadne
me descubro em líquidos
despedaço-me em fragmentos ...
dolorosamente eu sou: urgente!

Sufjan Stevens - Great God Bird


Poster informativo feito pela Nanda Correia (@nanda_kammi) do kammiatelier.com/.
Ajudem a divulgar, a situação da região serrana do RJ não é invisível .

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

She is a diamond.

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    O tumblr indicado de hoje é o fuckyeahhqmarilyn, com fotos em HQ e muito além do que a maioria costuma ver...
Não só para quem admira a Marilyn como para quem gosta da arte dos anos 40/60 já que ela não só era uma artista fora do comum, como sempre fora rodeadas por eles.

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''Marilyn Monroe é imagem fugaz. Uma chama tremeluzente multiplicada ao infinito, uma presença intacta que a qualquer instante, pode desaparecer (...) Explode clichês.''

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     Não se consegue continuar estável à presença dela, não depois de conhecê-la e esmiuçar sua arte. Ela era a  obra de arte em si. A mim ela toca, não só por dentro, mas como se lançasse brasa a minha pele. Não é compreensível para quem só conhece a sensualidade da loira de vestido branco esvoaçante ... É preciso conhecer e deixá-la se apresentar como Norma Jeane. Só então se sente queimar .

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amar o amor.

Seria como chegar à lua ou saltar de um penhasco e não cair. Era o sol se pondo hora após hora, num vazio cheio de gente. Como não haver gosto num amor desses? que assim, pelo dicionário nem amor seria ...
 Intocável, impossível, insolúvel, todos os sufixos de negação antes de qualquer desejo lascivo como tocar ou alcansar. Por uma miopia sugestiva cada passo dado se observava o foco feito na pele, ardendo sobre os pelos enquanto ele mordia distraídamente o lábio inferior. Se os olhos se mirassem, seria caça e presa no meio de uma ferocidade silenciosa de alguns segundos, encarando-se, engolindo cada parte desse coração selvagem demais. Mas não se olhariam. Parecia sórdido demais tamanha coragem num moça tímida. Era mundano; amor mundano.
Inexorável essa tamanha aflição de não falar, de não ter nada além de ar e alguns metros entre os dois. Dois? um só.
Ela, olhando pela vitrine o que desejava maculadamente. E não queria pagar preço para ter. Era execitante não ter. À noite o mundo se corrompia e só depois disso ela conseguia dormir. Corrompida, tocada, amando o amor que nem existia. Falava-se muito e era barulhento demais a demagogia do mundo do lado de fora, então ela se guardava dentro de si mesma, efervencendo a carne de que era feita.
Todos os dias ela desejava. Desejava ter. E se tivesse para onde iriam os versos de seu soneto, sua poesia? Então, que não tivesse.
 Ela esperava o pretendente que lhe abrandaria a brasa, se viesse que fosse palpável para ser estável e santo. E seria. Mas não tinha pressa. Havia anseio de continuar assim. Sem posse.
Só amando o amor que tinha...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Música à la carte





  Praticidade, conteúdo e música em multi-opções. Vos apresento : Vye Music !
Música livre, sem limites, e utilizando o catálogo massivo de gêneros. Para quem tem uma profunda preguiça de baixar todo o albúm das bandas que gosta ( como eu...) ou para quem quer conhecer coisa nova é a criação do século hahaha. Ele está aí desde 2007 e foi criado por um garoto de 17 anos da Califórnia.Funcionalidades do Vye: 
Pop, Rock, Alternativo, Indie, Country, Rap, Metal, Punk, Hardcore, Hip Hop. Ou seja, é físicamente impossível você não encontrar oque gosta mesmo se for a pessoa menos eclética do mundo.



funcionalidades do Vye :



Perfis de artista ter uma visão geral de qualquer artista. Exibe uma pequena biografia, os artistas parecidos,  faixas  e uma lista de todos os álbuns de maior popularidade.

Rádio lhe permite selecionando artistas preferidos, e proibir outros.

Music Never Dies  o que significa que nunca  a Vye para. Se você não tem nada na fila, Vye irá selecionar algo para você ouvir.

Listas de forma rápida e facilmente construir uma lista da sua música preferida. Eles são muito fácil compartilhar também!


                                                                          (...) descubra o resto

existência

dê-me sua mão

deixe-me esmiuçar sua voz
guardar seus detalhes
E te comprar uma casa, um carro, um sorvete
apresente-se para mim
E sorria.
Eu ainda não existo,
arranque as páginas dentro de mim
dê-me sua mão.

so sweet

da revista anthologymag




Do canal Shark Pig no Vimeo


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

NAS ENTRELINHAS

por Maria Rita Angeiras


     Poetas e escritores de quinta, destacando que o 'de quinta' é apenas um jeito charmoso de denominar a classe que escreve sem grandes pretensões burguesas, são a nata artística da virilidade dos homens. Têm o costume de ocupar as mesas dos bares sem aquela falsa despretensão indie, e fazem do chão sujo dos botecos um templo de adoração dos amigos garçons, da cerveja estupidamente gelada e, claro, de reverência às suas musas inspiradoras. Estas, ao contrário da maioria que se vê por aí, não se aventuram ao longo dos azulejos azuis em saltos doze centímetros ou em calças jeans 'dois números a menos, por favor'. Em compensação, têm a graciosidade estampada nos tênis infanto-juvenis, no cabelo quase sempre bagunçado e cansado do dia-a-dia, na maneira apaixonada com que defendem seus ideais pseudo-feministas e na revelação dos amores comunistas que vão fazendo ao longo da noite, de acordo com o adorável nível alcoólico. Não querem presentes caros, mimos exóticos, mensagens amorosas às oito da noite, mensagens desesperadas às cinco da manhã e e-mails com declarações de amor virtual. Querem a vivacidade dos poemas, a dor dos sonetos, a continuação das estrofes, a perdição dos trechos, a narração dos enredos, a descrição das crônicas e a simplicidade dos textos. Desejam, sem nenhum apego consumista, deitar por cima de papéis, abraçar bilhetes e escrever na parede um pedaço dele, na tentativa de aprisionar aquela poesia entre quatro paredes. E enquanto outras falam de borboletas, estas carregam na barriga frases, palavras, orações e letras. E diante de tanta poesia, se alguém vem me falar de preço, eu viro a cara, mudo de calçada e até finjo que desconheço. Porque não dá pra comparar a conta de um jantar romântico com a eternidade de um soneto.