domingo, 18 de julho de 2010

DOCE AMOR AMARGO.

            Histórias doces dão audiência e contemplação à plateia, que em unânime agrado ergue-se para aplaudir o amor invencível de um romance piegas. Do outro lado do palco os atores se despedem, tiram a maquiagem e dão a cara ao vento, na noite, no gelo, no frio das vidas que se encontram na estação de um trem; seguindo nos trilhos: anônimos que sofrem, atores que não interpretam mais, casais que ainda vão se formar e os que se desfazem de seus casos pondo o coração na mala e partindo para longe. Pobre corações asfixiados...
          Histórias de amor se passam na voz dos apaixonados, que levam consigo seu lenços para secar a escorregadia e esmiuçada realidade da própria vida e contar a invenção linda do amor alheio na saída do cinema.  Assim logo canta a realidade no amanhacer e contradiz o sonho bom de ter um coração de braços esticados tentando alcançar-lhes num abraço... mas não existem mais braços lá. E o coração se conforma então com a bolsa térmica de água aquecida do lado esquerdo da cama, que faz parecer quentinha a solidão.
         Histórias são amargas quando, amarguradas de falsas esperanças, tentam parecer simpáticas. Na sombra da calçada que forma o casal triunfante de velhinhos que descobriram a tão rara fórmula, se encontram perdidos os atores repletos de aplausos ( Meros falsantes de coração engomado.) à margem, amargurados erguendo a cabeça e olhando o amor de cima, catanto um corpo solitário que lhe abrigue a fé no bonito.
        Doce amor amargo esse, que se satisfaz de aplausos e pipocas. Amor tão recolhido, tão cheio de braços e desejos. Vivo, ainda que sem ar. Doce ainda que ninguém prove. Amargo quando despido. Doce amor amargo que persegue os poetas, doce amor amargo que inspira crônicas fingidas na poesia de amar alguém entre aspas, que faz crescer o números de corações suícidas.
       Doce amor esse...

Um comentário:

  1. Não sei se entendi mesmo. Se não, me desculpe. Mas acho que falas das desilusões que ocorrem fora da ficção, ou seja, no mundo real, onde nem sempre atingimos um final feliz. Muito pelo contrário, nossas vidas são marcadas inúmeras vezes por desencontros, digamos fatais. Mas essas desilusões, se dolorosas por um lado, por outro, fornecem a lenha que alimenta o fogo da criatividade. Criatividade esta que já gerou os mais belos lamentos de uma alma martirizada. O que seria da boa arte sem um coração partido? E de nossa necessidade humana de sonhar? Reflexões interessantes! Prazer em conhecer teu blog.

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