quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

amar o amor.

Seria como chegar à lua ou saltar de um penhasco e não cair. Era o sol se pondo hora após hora, num vazio cheio de gente. Como não haver gosto num amor desses? que assim, pelo dicionário nem amor seria ...
 Intocável, impossível, insolúvel, todos os sufixos de negação antes de qualquer desejo lascivo como tocar ou alcansar. Por uma miopia sugestiva cada passo dado se observava o foco feito na pele, ardendo sobre os pelos enquanto ele mordia distraídamente o lábio inferior. Se os olhos se mirassem, seria caça e presa no meio de uma ferocidade silenciosa de alguns segundos, encarando-se, engolindo cada parte desse coração selvagem demais. Mas não se olhariam. Parecia sórdido demais tamanha coragem num moça tímida. Era mundano; amor mundano.
Inexorável essa tamanha aflição de não falar, de não ter nada além de ar e alguns metros entre os dois. Dois? um só.
Ela, olhando pela vitrine o que desejava maculadamente. E não queria pagar preço para ter. Era execitante não ter. À noite o mundo se corrompia e só depois disso ela conseguia dormir. Corrompida, tocada, amando o amor que nem existia. Falava-se muito e era barulhento demais a demagogia do mundo do lado de fora, então ela se guardava dentro de si mesma, efervencendo a carne de que era feita.
Todos os dias ela desejava. Desejava ter. E se tivesse para onde iriam os versos de seu soneto, sua poesia? Então, que não tivesse.
 Ela esperava o pretendente que lhe abrandaria a brasa, se viesse que fosse palpável para ser estável e santo. E seria. Mas não tinha pressa. Havia anseio de continuar assim. Sem posse.
Só amando o amor que tinha...

Um comentário:

  1. Que esse pretendente chegue logo pra despertar essa brasa dentro dela.

    Adorei.
    Beijos

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