terça-feira, 11 de janeiro de 2011

NAS ENTRELINHAS

por Maria Rita Angeiras


     Poetas e escritores de quinta, destacando que o 'de quinta' é apenas um jeito charmoso de denominar a classe que escreve sem grandes pretensões burguesas, são a nata artística da virilidade dos homens. Têm o costume de ocupar as mesas dos bares sem aquela falsa despretensão indie, e fazem do chão sujo dos botecos um templo de adoração dos amigos garçons, da cerveja estupidamente gelada e, claro, de reverência às suas musas inspiradoras. Estas, ao contrário da maioria que se vê por aí, não se aventuram ao longo dos azulejos azuis em saltos doze centímetros ou em calças jeans 'dois números a menos, por favor'. Em compensação, têm a graciosidade estampada nos tênis infanto-juvenis, no cabelo quase sempre bagunçado e cansado do dia-a-dia, na maneira apaixonada com que defendem seus ideais pseudo-feministas e na revelação dos amores comunistas que vão fazendo ao longo da noite, de acordo com o adorável nível alcoólico. Não querem presentes caros, mimos exóticos, mensagens amorosas às oito da noite, mensagens desesperadas às cinco da manhã e e-mails com declarações de amor virtual. Querem a vivacidade dos poemas, a dor dos sonetos, a continuação das estrofes, a perdição dos trechos, a narração dos enredos, a descrição das crônicas e a simplicidade dos textos. Desejam, sem nenhum apego consumista, deitar por cima de papéis, abraçar bilhetes e escrever na parede um pedaço dele, na tentativa de aprisionar aquela poesia entre quatro paredes. E enquanto outras falam de borboletas, estas carregam na barriga frases, palavras, orações e letras. E diante de tanta poesia, se alguém vem me falar de preço, eu viro a cara, mudo de calçada e até finjo que desconheço. Porque não dá pra comparar a conta de um jantar romântico com a eternidade de um soneto.

Um comentário:

  1. o que falta no coração desses soberbos é vaidosos é exatamene isso... poesia.

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