sábado, 21 de agosto de 2010

EM 2O ANOS.

    





    Daqui a um ano, eu vou estar além do que minha mente aguçada, voraz e amordaçada pretende ir. Daqui a 365 dias e alguns segundos se contar de agora, eu vou voar de asa delta, comer comida tailândesa e virar surfista profissional. Vou saber falar francês, inglês e italiano; morar em Bruxelas e visitar o Louvre com meu noivo canadense de sutaque e barba de francês. Tocarei na Monaliza, reenauguro o Coliseu e aceno pra vocês na varanda do vaticano.
Fico amiga da Madonna, farei curso de tiro ao alvo e por fim acerto a sapato direto no George Bush.
         Daqui a cinco anos, vou estar em pleno êxtase existêncial, não cabendo em mim a descoberta
de estar viva, e de sobreviver vivendo, assim tão vivo, me esquecerei que morrer, às vezes,  assim só um pouquinho, também faz parte do escapismo. Escape, que enche de ar o coração e frequência o pulmão... Mas me darei conta disso e escreverei uma carta romântica, de romance burguês (com letra desenhada e corações invés dos pingos sobre os is) para o meu antigo amor; e quando me afogar de pleonasmos piegas nessa carta, ficarei triste e então estarei completa.
Escrevo um livro, reivento palavras e cito Dostoiévski em poemas. O poema de número 77, será escrito lá de um ashram indiano, onde só com a força do Eu inabalável farei uma obra  literária, sem precisar nem de caneta, porque serei inabalavelíssima! Anos: luz...
Então em quinze anos, me desafaço de tudo: aliança, casa e compromisso, e em cima de uma ponte, rifo meu coração, levanto a blusa e pulo. Agarrada a uma corda que me salve e deixe meu amor pendurado por horas; o coração por um fio! Até os bombeiros chegarem e o meu coração ser arrancado à força do meu tórax por dois deles de uma só vez.
         E aí em 20 anos, lanço minhas memórias. E conto tudo oque eu fiz em honra à vida, que me foi dada de presente, gratuíta; e como cavalo dado não se olha os dentes, aceito-a sem intensificar os defeitos. Para não temer quando o espelho perguntar :
         - Decepciona mais oque você fez ou oque não fez, meu caro?







Nenhum comentário:

Postar um comentário